A dificuldade que os pais encontram em abordar a questão do sexo e da sexualidade com seus filhos.
Novelas, jornais, seriados, comerciais, outdoors… Verdadeiras bombas de informação na vida do ser humano. E mais! Informações que invadem a vida das pessoas sem ter, no entanto, um público alvo selecionado.
Quando passa uma propaganda na televisão sobre o uso de camisinha às três horas da tarde ou quando mostra a mocinha da novela grávida sem saber quem é o pai de seu filho, apesar de querer atingir pessoas adultas, atinge também crianças e adolescentes. Os meninos ficam cada vez mais curiosos sobre o que é sexo. E sabe o que é ruim nessa história?
Ao contrário do que muitas pessoas responderiam, não é a abertura da mídia para as questões da sexualidade, mas o despreparo dos pais e educadores em lidarem com as dúvidas das crianças e dialogarem com seus adolescentes. O problema não está no excesso de informação e estímulos, mas na falta de formação!
É absolutamente natural que as crianças se despertem para as questões da sexualidade e questionem sobre o sexo. Meninos e meninas têm dúvidas e curiosidades sobre as diferenças sexuais e conhecimento do corpo humano. Não é bom que os pais inibam os comportamentos infantis de descoberta de si e do mundo. O que as crianças precisam é de uma orientação de pessoas que confiam. Quando os pais se negam a responder suas dúvidas, as crianças ficam mais confusas e procurarão suas respostas por meios não seguros, como sites de relacionamentos da internet ou com estranhos. Os pais devem se limitar a responder aquilo que a criança pergunta de forma clara. Deve, ainda, deixar esse espaço de diálogo sempre aberto. Quando os pais castigam as crianças por falarem ou demonstrarem interesse sobre as questões do corpo, do sexo e da afetividade, estão fechando a via de comunicação entre pais e filhos.
As crianças não podem ter medo de falar sobre sexualidade com os pais. São eles quem devem colocar limites de forma saudável, através de esclarecimentos e diálogos. Isso ajuda, inclusive, a proteger seus filhos de abusos sexuais. Se eles tiverem medo de falar de sexo com seus pais, não terão coragem de contar que foram molestados.
Normalmente vemos os pais ensinarem para as crianças que seus órgãos genitais devem ficar escondidos, que é feio e errado tocá-los, e ainda colocam nomes infantis como pererequinha e pintinho. Isso pode deixar conseqüências por toda a vida sexual dos pequenos. Além de atrapalhar o amadurecimento saudável da sexualidade infantil, as crianças começarão a esconder dos pais seus desejos, prazeres e descobertas. Afinal, sexualidade na se trata apenas de educação, mas também de hormônios.
Retomando o tema do abuso, se a criança acha que tocar e ser tocada é algo sujo, que sentir prazer no toque genital é errado e deve ser castigada por isso, caso alguém a seduza, a toque ou a beije, a criança não contará aos pais, principalmente se ela sentir-se excitada na hora (lembrando que isso é bem possível de acontecer devido às reações biológicas do organismo!). Então, esse é outro ponto a ser tratado com os filhos: eles devem confiar nos pais para contar sobre uma situação de abuso (e não devem ser penalizados caso isso ocorra!). Falar com os filhos que podem contar tudo para os pais (e demonstrar esse espaço na prática), ensinar que devem sempre relatar se alguém quiser tocá-lo, beijá-lo, mostrar os genitais à criança e/ou pedir que não conte nada para ninguém.
É importante que a criança saiba que, mesmo sob ameaças, o melhor é expor a situação para os pais. Além disso, dizer à criança que não precisa fazer necessariamente tudo o que um adulto manda. Se ela achar que o pedido desse adulto é estranho, ela pode dizer não. Aprender desde cedo que negar certas coisas não é falta de educação, mas bom-senso. Isso é fundamental para que a criança não se torne presa fácil nas mãos de pessoas mal intencionadas.
Quanto mais os pais tratarem o sexo e a sexualidade infantil com naturalidade e clareza, mais contribuirão para um amadurecimento saudável da vida sexual de seus filhos, além de protegê-los dos perigos do mundo. E a confiança adquirida na infância será levada para a adolescência, o que reduzirá os riscos de gravidez precoce, contração de doenças e falta de maturidade para lidar com o próprio corpo.
Colocar limites é diferente de bloquear etapas. Para ser pai não é necessário ser o tempo todo a figura da imposição. O respeito dos filhos não vem através do medo. Temor é diferente de respeito.
Respeito se adquire através de respeito. “Você só vai ter o respeito que quer, na realidade, o dia em que você souber respeitar, a minha vontade”, já dizia Raul Seixas. Respeite seu filho e ganhará seu respeito e confiança. Esses são os ingredientes principais para uma relação familiar saudável. Não tenha medo de falar sobre sexo com ele; isso não atrapalhará sua “inocência”, mas ao contrário, o ajudará em sua formação sexual.
O problema da atualidade tem sido o desencontro do excesso de informação com o processo de formação. As crianças recebem as informações e não sabem organizá-las ou entendê-las e cabe a vocês, pais (mãe e pai) darem suporte nesse processo de assimilação da informação.